Saúde mental dos professores

Estamos Adoecendo Juntos: A Crise da Docência Não Tem Fronteiras

Se você sente que o peso do trabalho está insustentável, que a exaustão virou rotina e que os sentimentos de ansiedade ou desânimo se tornaram parte do seu dia a dia na escola — saiba que você não está sozinho. Nem aqui no Brasil, nem em outros lugares do mundo.

Um levantamento recente feito em Nova York, nos Estados Unidos, mostrou que mais de 60% dos professores estão insatisfeitos com suas carreiras. E o dado que mais chamou atenção: 86% das escolas americanas têm dificuldades para contratar professores. A razão? Baixos salários, desrespeito, sobrecarga de trabalho, falta de apoio institucional e uma crescente sensação de que ensinar deixou de ser valorizado.

Se isso soa familiar, é porque é. Aqui no Brasil, não estamos vivendo nada diferente — talvez estejamos até em situação mais crítica.

A sala de aula está nos adoecendo

Em São Paulo, uma pesquisa do SINESP feita neste ano com apoio do Dieese revelou o que nós, da base, já sabemos na pele: a saúde dos educadores está no limite. Apenas 15% dos entrevistados disseram que não precisaram trabalhar doentes em 2025. E o dado mais chocante: 93% relataram fadiga e cansaço extremo causados pelo trabalho.

E tem mais:

  • 43% dos professores foram diagnosticados com estresse;
  • 34% com ansiedade ou síndrome do pânico;
  • 25% com distúrbios de sono;
  • 84% afirmam sentir constantemente angústia, desespero e outros sentimentos negativos relacionados ao trabalho.

Esses números não são estatísticas frias. Eles têm nomes, rostos e histórias. São os nossos colegas que estão tirando licença, indo ao pronto-socorro, tomando antidepressivos, tentando segurar as pontas com remédio e fé.

A dor tem voz: e precisa ser ouvida

No início deste ano, em Boa Vista (RR), professores foram às ruas vestindo preto. Protestavam não só por salários mais justos, mas por algo ainda mais urgente: a saúde mental e física da categoria. O estopim: a morte de duas professoras, casos que, segundo os colegas, estão diretamente ligados ao adoecimento emocional e à desvalorização crônica.

Isso não é apenas uma crise individual. É uma crise de um sistema que cobra cada vez mais e oferece cada vez menos. Que romantiza a “vocação” enquanto recusa direitos básicos. Que espera resultados extraordinários de trabalhadores esgotados.

O que fazer com essa dor coletiva?

A primeira resposta é: transformar em luta. Nós, professores sindicalizados, sabemos que não dá para esperar soluções que venham de cima. Precisamos fazer barulho, pressionar, ocupar espaços, exigir políticas públicas de valorização e cuidado real com quem ensina.

Também precisamos, com urgência, colocar a saúde mental no centro da pauta sindical e institucional. Isso significa garantir acesso a acompanhamento psicológico contínuo, rever metas desumanas impostas por secretarias, combater o assédio moral institucionalizado, e fortalecer redes de apoio entre colegas.

A nossa dor não pode mais ser tratada como “parte do ofício”. Não é normal adoecer para ensinar. Não é aceitável que cuidar de crianças e jovens custe nossa saúde física e emocional.

Ensinar é resistir. Mas resistir sozinho não dá.

É hora de colocar nossa saúde no centro do debate educacional. Porque uma escola doente começa por professores adoecidos — e não há educação de qualidade sem professores vivos, inteiros e respeitados.

Estamos adoecendo juntos. Mas também podemos lutar juntos por condições de trabalho que curem, não que adoeçam.

Se você também está enfrentando dificuldades de saúde no trabalho, procure apoio no seu sindicato. Juntos, somos mais fortes. E só juntos vamos conseguir virar esse jogo.

  1. Agência Brasil / EBC (Empresa Brasil de Comunicação)
    • Reportagem: “Saúde do professor é o principal desafio da educação em São Paulo”
    • Publicado em: 24 de novembro de 2024
    • Fonte da pesquisa realizada pelo SINESP em parceria com o DIEESE, abordando adoecimento físico e mental dos professores da rede municipal de São Paulo.
    • Link: agenciabrasil.ebc.com.br
  2. Folha de Boa Vista (RR)
    • Reportagem: “Professores de Boa Vista reivindicam melhores salários e suporte à saúde mental”
    • Publicado em: 29 de janeiro de 2025
    • Relata protesto de professores municipais em luto por colegas falecidas, denunciando o impacto da sobrecarga emocional.
    • Link: folhabv.com.br

🌍 Fontes internacionais

  1. New York Post (EUA)
    • Reportagem: “Educators are more drained than ever”
    • Publicado em: 22 de abril de 2025
    • Relata a exaustão emocional e profissional de professores em Nova York e a dificuldade de escolas em preencher vagas.
    • Link: nypost.com
  2. The Guardian (Reino Unido)
    • Reportagem: “Stress taking immense toll on teachers in England”
    • Publicado em: 14 de abril de 2025
    • Pesquisa da NEU (National Education Union) mostra que apenas 1,5% dos trabalhadores escolares relatam não sofrer estresse, destacando a sobrecarga na educação pública.
    • Link: theguardian.com